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segunda-feira, 9 de abril de 2012

Olhar sobre o Recife compartilhado na revista Aurora

As hashtags #recifenotadez e #recifemaltratado criadas por Francisco Cunha vêm chamando a atenção pelo registro sistemático e ilustrado com fotos que fazem do que o Recife tem de bom e de ruim. Dessa vez, foi o caso da revista Aurora do Diário de Pernambuco, que editou uma matéria sobre as fotos do Recife e de Olinda divulgadas no twitter @cunha_francisco.













quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Recife, Capital dos Baobás


Artigo da Última Página da Revista Algomais, ed. 69 de Dezembro/2011

Baobá na Praça da República


O baobá que conhecemos no Brasil (Adansonia digitata) é uma árvore muito simpática, nativa da África e da Austrália, à qual se atribui longevidade milenar. Não se sabe com certeza como foi trazida para o Brasil e teve em Pernambuco o lugar de sua maior disseminação, particularmente no Recife onde são encontradas às dezenas.

O mais famoso baobá da capital pernambucana, tombado pelo Ibama e pela prefeitura, é o que fica na Praça da República, defronte do Palácio do Governo. Conta a lenda, inclusive reproduzida na Wikipedia, que foi justamente esse exemplar a fonte de inspiração do escritor francês Antoine de Saint-Exupéry,
que era aviador e teria estado no Recife na época da Segunda Guerra, para colocar a árvore no seu mais famoso livro, “O Pequeno Príncipe”. 

Além desse, temos na cidade mais 10 outros exemplares tombados pela legislação municipal: (1) um no jardim da Faculdade de Direito do Recife; (2) um em Ponte D’Uchoa, às margens do rio Capibaribe (que tem o maior tronco do Recife); (3) um no Parque da Jaqueira; (4) um no Bairro da Encruzilhada, por trás do mercado; (5) um na Rua Coronel Urbano Sena, no bairro do Fundão (chamado por lá de barriguda); (6) um na Rua Marquês de Tamandaré, em Casa Forte; (7) um na entrada do Centro de Ciências Sociais Aplicadas, no campus da UFPE; (8) três na Estrada Velha do Bongi, no terreno da Faculdade Nova Roma.

Baobá da Rua Marquês de Tamandaré no Poço da Panela com Fred Leal de "baobômetro" titular

E além desses, só dentro dos limites da cidade do Recife, podem ser contados pelo menos mais 30 exemplares, a maioria deles jovens, o que é evidência de recente onda de disseminação a partir da produção local de mudas. Com essa quantidade, o Recife é, de longe, a cidade que registra a maior número de exemplares da árvore no Brasil, o que lhe confere, sem nenhuma sobra de dúvidas, o distintivo título de capital brasileira dos baobás. Por conta disso, até o Dia do Baobá (19 de junho) foi instituído no calendário oficial recifense. 

Segundo o professor Fernando Batista dos Santos, “a concentração de baobás em áreas de antigos engenhos de cana-de-açúcar faz com que muitos atribuam a presença da árvore entre nós aos povos africanos que aqui desembarcaram” para os quais a árvore tinha/tem significado místico/identitário. De fato, dos 115 baobás cadastrados por Marcus Prado e Antônio Campos no Estado pelo projeto “Pernambuco – Jardim dos Baobás” cujo DVD foi recentemente lançado na Fliporto, 101 estão localizados na Zona da Mata pernambucana.

Também sem que se saiba exatamente porquê, o fato é que se pode dizer que o baobá bombou. Além desse projeto, foi também recentemente lançado o livro “O Mapa dos Baobás do Brasil” do “baobólogo” Gilberto Vasconcelos. O curioso é que enquanto esse livro trata do Brasil e o outro projeto trata de Pernambuco, ainda está faltando uma abordagem específica para o caso tão especial do Recife.


Baobá em Ponte D'Uchoa às margens do Rio Capibaribe com Fernando Braga de "baobômetro" substituto

Foi justamente para preencher esta lacuna que os caminhantes domingueiros, entre os quais me incluo, que já publicaram os guias “Um Dia no Recife” e “Um Dia em Olinda” e estão produzindo o livro “Recife Passo a Passo”, lançaram o projeto “Recife, Capital dos Baobás” que promoverá neste verão
recifense o cadastramento eletrônico no Foursquare (serviço de geolocalização) dos baobás da cidade e montará um roteiro exequível de visitação a pé dos exemplares mais significativos do Recife, numa homenagem à árvore e à cidade.

Os leitores da Algomais podem aguardar que, em breve, verão na revista mais informações sobre o projeto e tomarão conhecimento de dicas para visitação dos baobás da sua capital no Brasil, o Recife.


Autor: Francisco Cunha - @cunha_francisco

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Não derrubem a sede do Sport


Artigo da Última Página da Revista Algomais, ed. 68 de Novembro/2011
Clique aqui para baixar a Algomais #68


Sede do Sport: Não é saudosismo, romantismo ou alienação, é história.
Sim, eu sei que o mundo precisa avançar, que há o imperativo inescapável do progresso, que os clubes de futebol precisam se empresariar e tirar partido dos seus patrimônios imobiliários em prol de um mínimo de estabilidade financeira para melhor cumprirem suas missões esportivas e sociais. Sei muito bem de tudo isso e, de antemão, já digo que não aceito a pecha de romântico, saudosista ou alienado que minhas considerações abaixo possam inspirar alguém a me impingir.

Mas, sei também, porque aprendi na escola e na dura experiência da vida, que esse progresso absolutamente necessário não se pode fazer em detrimento da memória coletiva, de uma cidade, de um povo. Porque se assim for feito, será espúrio, anti-civilizatório e condenável do ponto de vista moral.

Portanto, como rubro-negro de carteirinha (literalmente porque lembro muito bem da carteira de sócio proprietário que meu pai providenciou para mim, antes mesmo que eu sequer viesse a saber o que era futebol) sou completamente a favor do projeto da arena rubro-negra nos moldes em que vi publicado nos jornais e nos sites, com uma condição sine qua non: que não botem abaixo a sede social do clube da Ilha do Retiro e, mais do que isso, que a concluam e a preservem.

"Esse progresso absolutamente necessário não se pode fazer em detrimento da memória coletiva"
Defendo enfaticamente que o edifício da sede social permaneça de pé e integrado ao novo complexo que se pretende construir em razão do seu alto valor arquitetônico, digno representante de uma época (final da década de 1950 e início da de 1960) e de sua importância para a memória do clube, da região em que foi construída (Ilha do Retiro e arredores) e da própria cidade do Recife. E aqui vale um esclarecimento: o que chamo de sede social é o conjunto unitário composto pelo local do restaurante Varanda, a parte principal em arcos com o salão de festas no segundo piso e o bloco administrativo que vai até próximo à quadra coberta. Fora isso, por mim, tudo mais pode ir abaixo, inclusive o estádio, as quadras, o parque aquático e aquele horrível acréscimo recente para instalação da loja do time, de frente para a Avenida Abdias de Carvalho.

Pela pesquisa que fiz, a autoria do projeto é do arquiteto Augusto Reynaldo, integrante da chamada Escola de Arquitetura Moderna do Recife, falecido prematuramente em acidente no ano de 1958. Talvez tenha recebido a colaboração do arquiteto Jarbas Guimarães, ex-presidente do Sport. Trata-se de um primor de projeto de sede de clube que não sei por que cargas d’água não foi classificado pela Prefeitura do Recife como IEP – Imóvel Especial de Preservação (previsto em lei municipal como aquele constituído por exemplar isolado, de arquitetura significativa para o patrimônio histórico, artístico e/ou cultural, que interessa à cidade preservar). É inexplicável que a sede social do Náutico seja IEP e a do Sport não, uma vez que a qualidade do projeto da rubro-negra é superior ao da alvirrubra (a qual também defendo, veementemente, não derrubar e preservar) como exemplo de programa arquitetônico específico de clube esportivo.

A observação pelo Google Earth do terreno da Ilha do Retiro mostra que a atual sede social não chega a ocupar sequer 5% da área total (13 ha), o que torna perfeitamente possível a integração, bastando para isso uma adaptação do projeto feito. Alegar que não é possível é incorreto. Basta querer fazer que será feito. O Blog da Algomais registrou uma declaração do histórico rubro-negro Haroldo Praça, o famoso “Haroldo Fatia” do imortal Frevo Nº 1 do Recife, de Antônio Maria (“Ô, ô, ô, saudade / Saudade tão grande...”), falecido este ano, dizendo que iria para a frente das máquinas impedir a demolição. Não chego a tanto, mas lavro aqui meu protesto veemente clamando para que a absurda insensibilidade não prevaleça, o pior não aconteça e o bom senso seja recuperado em prol do respeito à memória do clube e do Recife.

Autor: Francisco Cunha - @cunha_francisco

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Praça de Casa Forte

Neste vídeo feito pela Pernambuco.TV sobre as Caminhadas Domingueiras, a personagem principal é a Praça de Casa Forte construída no lugar onde aconteceu a Batalha de Casa Forte em 17 de agosto de 1645. Foi a segunda batalha ganha pelas forças pernambucanas contra o invasor holandês e que terminou por dar nome à praça, ao bairro e à sua principal avenida. Trata-se de um lugar, além de histórico, muito bonito e que merece muito uma boa caminhada contemplativa. Vale a pena observar as casas, os prédios e a belíssima praça, a primeira desenhada pelo mundialmente conhecido paisagista Robert Burle Marx.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

A Bicicleta na Contramão

Artigo da Última Página da Revista Algomais, ed. 67 de Outubro/2011
Clique aqui para baixar a Algomais #67

Outro dia, tive uma reunião cancelada, cheguei mais cedo em casa e fui a pé para o Pilates, unindo o útil (exercício aeróbico) ao agradável (a própria caminhada em si no início da noite). Tudo ia bem até que parei na calçada da Rua Padre Roma, em frente à faixa de pedestre, esperando que o sinal abrisse para atravessar. Quando isso aconteceu, olhando para o lado de onde vinham os carros, quando eles pararam, pus o pé direito na faixa e... Zás! A milímetros do meu nariz passa, como uma bala, trafegando pela contramão, uma bicicleta. Por uma questão de milésimos de segundo não sofri um atropelamento que, com certeza, me traria conseqüências desastrosas.

Atordoado pelo susto, deixei escapar o impropério: “filho da...!”. O cara da bicicleta, que já ia longe pela contramão, fez um gesto obsceno e se mandou entre os carros e o meio fio, prosseguindo impune na sua contravenção quase assassina.

Atravessei a rua com as pernas bambas pensando que se tivesse sido atingido pela bicicleta naquela velocidade, teria ido parar na emergência de um hospital e seria obrigado, se tivesse sorte, a trocar o Pilates por meses inteiros de fisioterapia. Passado o calafrio inicial, foi me mando uma raiva intensa de, fazendo a coisa certa (calçada, faixa, sinal), ser obrigado a passar por uma situação dessa natureza, resultado do avanço de um processo gradativo e constante de descontrole que se espalha por toda a cidade, sem ações disciplinatórias eficazes do poder público municipal na direção contrária. São carros estacionados placidamente nas calçadas, buracos enormes abertos nas ruas que passam horas e dias sem ninguém trabalhando neles, calçadas privatizadas e obstruídas por todos os tipos de obstáculos, carroças enormes tracionadas por humanos e animais trafegando muitas vezes na contramão em horário de rush, caminhões e carros parados fazendo carga e descarga a qualquer hora do dia ou na noite nas vias de trânsito pesado e congestionado, bicicletas e motos trafegando impunemente pela contramão e por cima das calçadas etc. etc. etc.

Depois de passados o susto e a raiva mais intensos, refletindo um pouco sobre o problema, vejo-me levado a concluir que a situação é muito mais grave do pode parecer sob o impacto da violenta emoção. Na verdade, tudo faz crer que no Brasil a administração pública municipal, com raras exceções, e das metrópoles em especial, estão perdidas diante da magnitude, da complexidade e da velocidade dos problemas urbanos decorrentes de um modelo de gestão que, simplesmente, faliu. A imagem que me vem à mente é de um caçador com uma espingarda de ar comprimido numa mata que virou selva e se encheu de todo tipo de bicho peçonhento e carnívoro. Ou, por outra, de guardas armados apenas com cassetetes num ambiente onde os fora da lei estão equipados com metralhadoras e fuzis AR15.

No que diz respeito ao Recife especificamente, penso que estamos caminhando, rapidamente, para ter que fazer um escolha de Sofia entre um trânsito e um ordenamento urbano à moda chinesa (caótico mas “organizado”) ou à moda indiana (caótico e “desorganizado”). Isso mesmo, uma escolha entre o caos organizado ou desorganizado, porque do caos mesmo talvez não tenhamos mais como escapar, infelizmente. Trata-se, portanto, de um tema que precisa urgentemente ser tratado e discutido: as cidades no Brasil travaram e faliram como locais organizados e sob controle. O que fazer? Pergunta que, temo, vamos passar toda a próxima década tentando responder. E o que é pior: não tem solução mágica. A mim, interessa saber, para tentar evitar ir parar, de graça, no hospital: vamos aceitar que as bicicletas andem impunemente pela contramão?

Autor:  Francisco Cunha - @cunha_francisco

Palácio do Campo das Princesas

O quarto filme produzido pela Pernambuco.TV (www.pernambuco.tv) tendo como motivo as Caminhadas Domingueiras foi uma edição especial sobre o Palácio do Governo (do Campo das Princesas), numa visita competentemente guiada e narrada pelo arquiteto Fernando Guerra do cerimonial do Palácio. Uma beleza de programa que, na verdade, pode ser calmamente "saboreado" em forma de visita virtual ao se assistir o vídeo. Para os que preferirem a visita presencial, guiada, o Palácio é aberto aos domingos de manhã justamente para isso.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Pedágio Urbano

Artigo da Última Página da Revista Algomais, ed. 66 de Setembro/2011
Clique aqui para baixar a Algomais #66

Não sou especialista em transportes mas como presto consultoria em gestão a empresas de transporte publico de passageiros da Região Metropolitana do Recife (e ao próprio sindicato da categoria), desde há quase 20 anos, terminei me interessando pelo assunto e me aprofundando nele como que por “osmose”. Isso, aliado ao fato de ter estudado urbanismo na faculdade e de ter palmilhado o Recife inteiro várias vezes e em todas as direções nas caminhadas domingueiras (ou não), me fazem ter chegado a algumas convicções sobre o tema que foram sendo testadas ao longo dos anos pela pesquisa e pelas observações que fui fazendo nas viagens a diversos outros países, a passeio ou trabalho.

A primeira delas é que o principal problema das cidades brasileiras nos próximos anos (talvez na próxima década) é o da mobilidade. Afinal, o Brasil em apenas cerca de meio século inverteu a ocupação territorial, deixando de ser 80% rural e 20% urbano para ser, hoje em dia, acima de 80% urbano, com uma população mais do que dobrada. Além disso, desenvolveu fortemente a cultura rodoviária e automobilística sem o necessário e indispensável investimento público em planejamento urbano e em sistemas estruturais de transporte coletivo, na intensidade e no ritmo que o acelerado processo de urbanização requeria. Resultado: o incentivo à produção e aquisição de automóveis e motocicletas, turbinado pela recente ascensão de mais de 30 milhões de pessoas à condição de novos consumidores desses produtos, trouxe para o presente um problema que se manifestaria um pouco mais adiante. Para se ter uma idéia, só na RMR ingressam 60 mil novos carros por ano. Isso equivale ao incremento mensal de uma quantidade de automóveis igual à que comporta uma Avenida Boa Viagem totalmente engarrafada, da curva do Pina ao antigo Hotel Boa Viagem. Não há alargamento de vias nem construção de viadutos que, sozinhos, resolvam (a propósito, o urbanista Jaime Lerner define “viaduto” como sendo “a distância mais curta entre dois engarrafamentos”).

Por conta desse fenômeno avassalador, minha segunda convicção é a de que o problema só pode ser atacado com o investimento maciço dos governos em sistemas estruturais de transporte público/coletivo de qualidade. E, aqui, abro um parênteses para louvar a recente decisão do Governo de Pernambuco que, por intermédio as Secretaria das Cidades, anunciou um pacote de investimentos para implantação no Recife de quase 100km de corredores inteligentes chamados BRT (Bus Rapid Transit), sistema servido por ônibus de alta capacidade e rapidez que utiliza corredores exclusivos, o mais adequado e testado para cidades que não têm recursos nem condições geológicas para construir metrôs debaixo da terra como é o caso do Recife. É muito bom constatar que finalmente os esforços estão sendo feitos na direção certa.

Por fim, minha terceira convicção é a de que, implantado um sistema de transporte coletivo estrutural e de qualidade superior, será chegada a hora inescapável de implantar o pedágio urbano como já fez, Cingapura, Londres e Estocolmo, por exemplo. Já que não é possível restringir a compra de veículos automotores (pelo contrário, até, uma vez que há uma evidente política de estimular essa compra), vai ser necessário impor restrições à sua circulação nas grandes cidades. Da última vez que disse isso no Twitter levei uma verdadeira surra virtual. Trata-se, evidentemente, de uma medida impopular e dura para quem tem ou pretende ter carro mas, infelizmente, inevitável. Afinal, mesmo no melhor cenário, a situação vai piorar muito antes de começar a melhorar. O pedágio urbano pode demorar cinco anos ou mais porém sem dúvida virá e quanto mais cedo formos conversando e discutindo a respeito, melhor.

Autor: Francisco Cunha - @cunha_francisco

Cais Martins de Barros e Praça da República

No terceiro filme produzido pela Pernambuco.TV sobre as Caminhadas Domingueiras, o percurso trilhado pela beira do trecho de rio formado pelo encontro dos rios Capibaribe e Beberibe (o exato local onde, dizem os ufanistas residentes, os dois rios se encontram para formar o Oceano Atlântico…) chega à extraordinária Praça da República tendo como trilha sonora a magistral música de Dorival Caymmi "Dora, Rainha do Frevo e do Maracatu"). Caymmi a compôs da sacada do antigo Grande Hotel quando, vindo ao Recife para se apresentar na Rádio Jornal do Commercio (cujo slogan era "Pernambuco falando para o mundo"), viu passar uma mulata belíssima à frente de um bloco carnavalesco. Encantou-se, fez a música e a registrou na história da MPB.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Secretaria das Calçadas

Artigo da Última Página da Revista Algomais, ed. 65 de Agosto/2011
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A calçada é o primeiro degrau da cidadania urbana. Numa cidade onde a calçada não é respeitada, não se pode esperar respeito por mais nada. Estacionar na calçada é, no final das contas, um ato de covardia porque o pedestre não pode “revidar”, “estacionando” no meio da rua para “atrapalhar” a circulação dos carros. Se fosse criado um indicador para caracterizar problemas nas calçadas (onde andam os pedestres) e nas ruas (onde circulam os veiculam) ele apontaria muito mais problemas por m2 nas calçadas do que nas ruas. Nos meios de comunicação, todavia, a visibilidade é oposta, o que evidencia a pouca importância dada ao assunto.

Tenho postado essas e outras frases ultimamente com insistência no Twitter como expressão de minha indignação pessoal com a lamentável situação a que estão relegadas as calçadas e com a atitude de absoluto desrespeito para com o sagrado direito de ir e vir do cidadão pedestre na cidade do Recife.

Desde que comecei a andar de forma sistemática (porque de modo assistemático sempre andei) pelas ruas do Recife, há pelos menos cinco anos, praticamente todos os domingos (pelas minhas contas já foram mais de 1.000 km), tenho observado de tudo: dia após dia cada vez mais carros, plácida e impunemente estacionados; buracos de todos os tamanhos e formas; todo tipo de obstáculos (degraus, grades, canos, raízes, churrasqueiras, cadeiras e mesas de bares, mercadorias de todos os tipos, lixo, bancas de revistas, barracas, cocô de cachorro e, não raro de gente também etc.).

De todas essas lastimáveis mazelas, a mais revoltante é o estacionamento proibido de veículos no espaço destinado aos pedestres. Lembro claramente que esse era um problema muito freqüente antes de vigorar o novo Código Nacional de Trânsito em 1998 mas, depois, por conta do aumento do valor das multas e da ação da fiscalização do Detran, os carros sumiram das calçadas. Até que o controle do trânsito passou na cidade do Recife do Detran para a CTTU e, aí, como que num passe de mágica, a situação voltou, num tremendo retrocesso, ao estágio inicial e vem piorando progressivamente desde então sem que os infratores sofram absolutamente qualquer tipo de sanção. Neste mesmo espaço da Última Página cheguei a escrever um artigo com o título “CTTU, Multe Por Favor!”, solicitando que o órgão cumprisse sua obrigação mais elementar. Nada, porém, aconteceu. Absolutamente nada, muito pelo contrário.

Foi aí que recentemente no Twitter postei também essa sugestão provocativa: a prefeitura criar a Secretaria das Calçadas para enfrentar tão grave problema. Além da sugestão de criação da secretaria, fui além e me coloquei no lugar do hipotético secretário das calçadas postando as seguintes medidas que tomaria logo depois de empossado, por ordem de importância: (1) multa por estacionamento proibido em todos os veículos que estivessem sobre as calçadas, a qualquer hora do dia ou da noite; (2) ampla campanha educativa tendo como tema “calçada é lugar de pedestre”; (3) retirada de todos os obstáculos indevidos nas calçadas, inclusive mesas e cadeiras de bares; (4) trinta dias após o início da campanha, começaria a notificação aos proprietários dos lotes cujas calçadas estivessem fora dos padrões mínimos requeridos dando prazo de trinta dias para adequação; (5) findo o prazo, a prefeitura faria a adequação e mandaria a multa e a conta para o proprietário do lote.

Tenho certeza absoluta de que seis meses após a primeira multa as mudanças já começariam a ser notadas. Um ano depois, a situação estaria substancialmente melhor. Se for prioridade, tem jeito sim.

Autor: Francisco Cunha - @cunha_francisco

Cais da Alfândega e do Imperador

Neste segundo filme produzido pela Pernambuco.TV sobre as Caminhadas Domingueiras pelo Recife, o passeio se dá da Praça do Marco Zero até o outro lado do rio, passando pela Igreja da Madre de Deus, Cais da Alfândega, Ponte Maurício de Nassau, vista do Cais do Imperador e Praça 17. Trata-se de um trecho privilegiado do centro do Recife que merece ser percorrido a pé com toda a atenção para a beleza da paisagem e a densidade das referências históricas.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Viva, a Placa Voltou!

Artigo da Última Página da Revista Algomais, ed. 64 de Julho/2011
Clique aqui para baixar a Algomais #64

Amigos e leitores da Algomais, nem tudo está perdido! A placa que havia sumido do prédio em reformas na esquina da Rua do Imperador com Primeiro de Março e sobre a qual escrevi, um tanto desencantadamente no número 59, voltou ao seu lugar de origem. Viva três vezes!

Desde que notamos, eu e Plínio Santos-Filho, em nossas caminhadas domingueiras, o sumiço da placa colocada pela Prefeitura do Recife assinalando o local da primeira residência de Maurício de Nassau no Recife e do primeiro observatório astronômico das Américas e do Hemisfério Sul, não cansei de escrever, tuitar e reclamar a quem podia e tinha paciência (e, felizmente, educação...) para me ouvir. Afinal, fazia questão de dizer, o mais enfaticamente possível, que considerava um absurdo o fato de um bem público como a placa desaparecer do local onde estava sem nenhum aviso nem informação de onde foi parar e do que se pretendia fazer com ela, ficando a coisa por isso mesmo...

Dentre as diversas pessoas com as quais falei e/ou leram meu artigo, as que me deram retorno sobre medidas tomadas no sentido de fazer a placa voltar a seu devido lugar foram Anita Dubeux, da Secretaria de Desenvolvimento Econômico da Prefeitura do Recife; o vereador Sérgio Magalhães; e Fred Leal, diretor executivo da CDL Recife.

Esse é um exemplo mais do que evidente de que o inconformismo com as coisas erradas pode surtir efeito quando mobiliza as pessoas certas para reverter ou consertar o malfeito.

A respeito disso, quero aproveitar a oportunidade para voltar a perguntar acerca do paradeiro da estátua de um escravo em tamanho natural, muitíssimo bem feita por sinal, que compunha o belo monumento em homenagem ao abolicionista José Mariano Carneiro da Cunha, junto à Igreja de Nossa Senhora da Saúde no Poço da Panela. Há cerca de um ano, a estátua de bronze do escravo liberto teve o seu braço arrancado por obra de algum vândalo de plantão. Pouco tempo depois, a própria estátua desapareceu, sem que fosse deixada qualquer pista ou satisfação. Quero crer na hipótese mais benigna: a prefeitura retirou a estátua para consertar o braço e depois recolocá-la no seu devido lugar. Se é isso, no local deveria ter sido deixada uma comunicação explicando o procedimento, como é costume nos museus civilizados quando alguma obra da exposição permanente é retirada para conserto ou empréstimo. Parece uma questão menor ou, mesmo, um detalhe descabido, mas não é. Trata-se de uma obra de arte pública cujo paradeiro em princípio interessa a todos. Quanto à pior hipótese, de retirada por alguém que não a prefeitura, aí é que a intervenção da municipalidade, com apoio da polícia, deveria ser ainda mais necessária e informada...

Esses são exemplos muito claros de que é mais do que chegada a hora de, do lado dos cidadãos moradores da cidade, uma cobrança mais firme e efetiva quanto à qualidade e ao paradeiro dos bens públicos e, do lado da administração municipal, uma atenção redobrada com esses bens, além de uma ação preventiva de cuidado e informação sobre eles.

Talvez alguns digam que isso é aspiração de cidades civilizadas ou mesmo frescura de quem não tem muito o que fazer. A esses respondo com a convicção, que a cada dia mais se firma, de que temos todos os recifenses, mais do que a obrigação, o dever cívico, de aspirar à civilização na nossa tão magnífica quanto mal tratada cidade. Isso, tanto no que diz respeito às grandes ações ou iniciativas, quanto às consideradas “menores” como essas da placa e da estátua. Afinal, como bem demonstrou Nova York, cabalmente para o mundo, são as pequenas janelas deixadas quebradas que atraem as pedras para as maiores ainda inteiras.

Autor Francisco Cunha - @cunha_francisco












Arrecifes e Praça do Marco Zero

Esse é o primeiro vídeo editado pela Pernambuco.TV (colocar link) dos passeios domingueiros de Francisco Cunha e Plínio Santos-Filho pelo Recife. Nele, o local de visitação é a Praça do Marco Zero, onde a cidade nasceu e de onde partem todas as distâncias do Estado de Pernambuco. Rodeada por belas construções, é palco de uma das últimas obras de pintor Cícero Dias que decora o piso da praça. Do outro lado do porto, onde se pode ir de barco, sobre os arrecifes que deram nome à cidade, está o Parque das Esculturas, local de dezenas de obras de diversos tamanhos e formas do celebrado artista plástico Francisco Brennand. Um agradável passeio pelo coração da cidade, obrigatório a moradores e visitantes que desejam “visitar” a história da capital pernambucana e ser agradavelmente surpreendido pela beleza paisagística e urbanística do berço do Recife.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Em Defesa do Guarda-Chuva

Artigo da Última Página da Revista Algomais, ed. 63 de Junho/2011
Clique aqui para baixar a Algomais #63

Sempre me chamou a atenção a ojeriza que uma boa parte dos recifenses tem a guarda-chuvas e sombrinhas. Tento achar uma razão racional para isso e não encontro. Afinal, desde que me entendo de gente usei guarda-chuvas porque, sempre andei bastante pela cidade e nunca gostei de chegar ao destino como um pinto molhado.

Um certo dia, essa minha preferência virou convicção quando vi o eminente ecólogo (hoje seria chamado de “ambientalista”), professor João Vasconcelos Sobrinho, andando pela rua, num dia estiado mas sujeito a “pancadas esparsas” segundo o jargão da época, segurando uma descolada pasta de couro marrom da qual pendia, elegantemente encaixado num suporte próprio, de fábrica, um guarda-chuva normal, dos grandes.

Fiquei vivamente impressionado com a praticidade e, mais do que isso, com a naturalidade com que o professor (por sinal, uma figura humana encantadora) “assumia” o guarda-chuva quase que como um componente da indumentária. Ato contínuo, bati todo o comércio da cidade atrás de uma pasta semelhante (já que sabia impossível uma igual pois era evidente que se tratava de um produto adquirido no exterior). Terminei encontrando uma parecida e a adaptei para receber o guarda-chuva grande. Em todo lugar onde chegava, era a maior greia... Chamava tanta atenção pelo inusitado que um belo (e chuvoso) dia, esperando o elevador no prédio da Secretaria da Fazenda onde trabalhava, alguém que vinha pelo corredor lateral e não me via mas via um pedaço da pasta com o guarda-chuva, falou para o acompanhante: “olha Chico ali, esperando o elevador...”.

Já tinha visto na faculdade um pouco da pluviometria local mas, depois de me aprofundar mais no assunto, passei a embasar tecnicamente meu apreço pelo invernal utensílio. No Recife temos mais ou menos seis meses “secos” (setembro a fevereiro, com precipitação mensal média abaixo de 80mm e vales em novembro e dezembro abaixo de 50mm) e seis meses “chuvosos” (março a agosto, com precipitação mensal média acima de 250mm e picos em junho e julho acima de 400mm). No total temos uma precipitação anual média acima de 2.000mm (ou seja, 2 metros de água), o que é uma quantidade de chuva razoável e dispersa (afinal, chove todos os meses, uns mais, outros menos) para sair sem guarda-chuva por aí na vã esperança de não se molhar. Simplesmente impossível.

Por isso, tenho recomendado, a quem vejo molhado ou preso nos lugares sem poder sair por causa da chuva, a comprar guarda-chuvas. E muitos. No começo do “inverno” comprei logo 10, daqueles chineses, automáticos, tamanho grande (os pequenos dobráveis são terrivelmente incômodos e demasiado frágeis) pois “desgraça pouca é bobagem”. Como estava “fora de temporada”, ainda consegui pelo preço de R$ 5,00 cada. Hoje está por R$ 10,00 mas vale. Tecnologia barata e eficiente naquilo para que é usada: evitar que o usuário fique molhado. A quantidade se justifica pela qualidade “descartável” (são produtos de massa, chineses por derradeiro) e pela alta probabilidade de perda. Como o tempo muda com muita rapidez na cidade, sobretudo nos meses de maior pluviosidade (um dia que começou com sol pode se transformar em chuvoso em 15 minutos e vice-versa), não é raro sair com um guarda-chuva debaixo de chuva e esquecê-lo em algum lugar depois que o tempo abre. Com muitos, não se fica sem.

Em resumo, a questão é essa: não dá para ficar sem se molhar, durante os meses chuvosos no Recife, a não ser que não se precise sair à rua. Se sim, é indispensável o guarda-chuva ou a sombrinha. Não querer usá-los é da mesma natureza de se recusar a andar de casaco ou de sobretudo na neve. Poder, pode, só que as conseqüências são óbvias, previsíveis e danosas à estética e à saúde.


Autor Francisco Cunha - @cunha_francisco

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Igreja da Madre de Deus






A igreja da Madre de Deus é o principal monumento religioso edificado na península portuária do Recife (Bairro do Recife), entre a segunda metade do Século XVII e o início do Século XVIII. Erguida pela congregação religiosa dos padres do Oratório de São Felipe de Néri, a igreja teve sua construção iniciada em 1706 e foi dada como concluída em 1720, com o término de seu frontispício.












Em estilo barroco, conserva a arquitetura original e tem painéis arrojados no interior, obra do pintor Sebastião Canuto Tavares. Possui nave única, excepcionalmente ampla, com dois corredores laterais e seis capelas internas. Os seis altares entalhados, acabados em branco e ouro, são do estilo denominado Rococó tardio.









Às capelas, correspondem tribunas que se abrem em corredores superiores.
A composição bem elaborada do frontispício da igreja é resultado da definição do espaço interior. A cantaria, originalmente em arenito, hoje recoberto, é realçada pelas partes brancas nas paredes. Incendiada em 1971, passou por profunda reforma, recentemente refeita. É uma das mais belas igrejas do Recife, monumento nacional.

Circuito das Igrejas do Centro do Recife

A partir desta postagem, o Blog Recife Passo a Passo inicia a série do Circuito das Igrejas Católicas do Centro do Recife, a ser feito preferencialmente a pé, numa excelente oportunidade de “costura” das áreas historicamente nobres do chamado Centro Expandido do Recife (Bairros do Recife, Santo Antônio, São José e Boa Vista). O circuito compõe-se de cerca de duas dezenas de igrejas, sem contar a Capela Dourada, boa parte tombada como monumentos nacionais do Barroco. O início se dá pela Igreja da Madre de Deus, atualmente a única visitável no Bairro do Recife, já que a outra ainda existente, a do Pilar, depois de longo período de abandono, encontra-se atualmente em processo de reforma. Além dessas duas, o bairro portuário ainda contou até o início do Século XX, quando foi derrubada (1914) em meio à obras de ampliação do porto, com a Matriz do Corpo Santo que ficava nas imediações da atual Praça do Marco Zero. Essa igreja desaparecida foi construída sobre a primeira igreja da cidade, erguida nos primórdios da colonização em homenagem a Satelmo, santo protetor dos navegantes. Vamos às igrejas do centro!