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segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Não derrubem a sede do Sport


Artigo da Última Página da Revista Algomais, ed. 68 de Novembro/2011
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Sede do Sport: Não é saudosismo, romantismo ou alienação, é história.
Sim, eu sei que o mundo precisa avançar, que há o imperativo inescapável do progresso, que os clubes de futebol precisam se empresariar e tirar partido dos seus patrimônios imobiliários em prol de um mínimo de estabilidade financeira para melhor cumprirem suas missões esportivas e sociais. Sei muito bem de tudo isso e, de antemão, já digo que não aceito a pecha de romântico, saudosista ou alienado que minhas considerações abaixo possam inspirar alguém a me impingir.

Mas, sei também, porque aprendi na escola e na dura experiência da vida, que esse progresso absolutamente necessário não se pode fazer em detrimento da memória coletiva, de uma cidade, de um povo. Porque se assim for feito, será espúrio, anti-civilizatório e condenável do ponto de vista moral.

Portanto, como rubro-negro de carteirinha (literalmente porque lembro muito bem da carteira de sócio proprietário que meu pai providenciou para mim, antes mesmo que eu sequer viesse a saber o que era futebol) sou completamente a favor do projeto da arena rubro-negra nos moldes em que vi publicado nos jornais e nos sites, com uma condição sine qua non: que não botem abaixo a sede social do clube da Ilha do Retiro e, mais do que isso, que a concluam e a preservem.

"Esse progresso absolutamente necessário não se pode fazer em detrimento da memória coletiva"
Defendo enfaticamente que o edifício da sede social permaneça de pé e integrado ao novo complexo que se pretende construir em razão do seu alto valor arquitetônico, digno representante de uma época (final da década de 1950 e início da de 1960) e de sua importância para a memória do clube, da região em que foi construída (Ilha do Retiro e arredores) e da própria cidade do Recife. E aqui vale um esclarecimento: o que chamo de sede social é o conjunto unitário composto pelo local do restaurante Varanda, a parte principal em arcos com o salão de festas no segundo piso e o bloco administrativo que vai até próximo à quadra coberta. Fora isso, por mim, tudo mais pode ir abaixo, inclusive o estádio, as quadras, o parque aquático e aquele horrível acréscimo recente para instalação da loja do time, de frente para a Avenida Abdias de Carvalho.

Pela pesquisa que fiz, a autoria do projeto é do arquiteto Augusto Reynaldo, integrante da chamada Escola de Arquitetura Moderna do Recife, falecido prematuramente em acidente no ano de 1958. Talvez tenha recebido a colaboração do arquiteto Jarbas Guimarães, ex-presidente do Sport. Trata-se de um primor de projeto de sede de clube que não sei por que cargas d’água não foi classificado pela Prefeitura do Recife como IEP – Imóvel Especial de Preservação (previsto em lei municipal como aquele constituído por exemplar isolado, de arquitetura significativa para o patrimônio histórico, artístico e/ou cultural, que interessa à cidade preservar). É inexplicável que a sede social do Náutico seja IEP e a do Sport não, uma vez que a qualidade do projeto da rubro-negra é superior ao da alvirrubra (a qual também defendo, veementemente, não derrubar e preservar) como exemplo de programa arquitetônico específico de clube esportivo.

A observação pelo Google Earth do terreno da Ilha do Retiro mostra que a atual sede social não chega a ocupar sequer 5% da área total (13 ha), o que torna perfeitamente possível a integração, bastando para isso uma adaptação do projeto feito. Alegar que não é possível é incorreto. Basta querer fazer que será feito. O Blog da Algomais registrou uma declaração do histórico rubro-negro Haroldo Praça, o famoso “Haroldo Fatia” do imortal Frevo Nº 1 do Recife, de Antônio Maria (“Ô, ô, ô, saudade / Saudade tão grande...”), falecido este ano, dizendo que iria para a frente das máquinas impedir a demolição. Não chego a tanto, mas lavro aqui meu protesto veemente clamando para que a absurda insensibilidade não prevaleça, o pior não aconteça e o bom senso seja recuperado em prol do respeito à memória do clube e do Recife.

Autor: Francisco Cunha - @cunha_francisco

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Praça de Casa Forte

Neste vídeo feito pela Pernambuco.TV sobre as Caminhadas Domingueiras, a personagem principal é a Praça de Casa Forte construída no lugar onde aconteceu a Batalha de Casa Forte em 17 de agosto de 1645. Foi a segunda batalha ganha pelas forças pernambucanas contra o invasor holandês e que terminou por dar nome à praça, ao bairro e à sua principal avenida. Trata-se de um lugar, além de histórico, muito bonito e que merece muito uma boa caminhada contemplativa. Vale a pena observar as casas, os prédios e a belíssima praça, a primeira desenhada pelo mundialmente conhecido paisagista Robert Burle Marx.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

A Bicicleta na Contramão

Artigo da Última Página da Revista Algomais, ed. 67 de Outubro/2011
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Outro dia, tive uma reunião cancelada, cheguei mais cedo em casa e fui a pé para o Pilates, unindo o útil (exercício aeróbico) ao agradável (a própria caminhada em si no início da noite). Tudo ia bem até que parei na calçada da Rua Padre Roma, em frente à faixa de pedestre, esperando que o sinal abrisse para atravessar. Quando isso aconteceu, olhando para o lado de onde vinham os carros, quando eles pararam, pus o pé direito na faixa e... Zás! A milímetros do meu nariz passa, como uma bala, trafegando pela contramão, uma bicicleta. Por uma questão de milésimos de segundo não sofri um atropelamento que, com certeza, me traria conseqüências desastrosas.

Atordoado pelo susto, deixei escapar o impropério: “filho da...!”. O cara da bicicleta, que já ia longe pela contramão, fez um gesto obsceno e se mandou entre os carros e o meio fio, prosseguindo impune na sua contravenção quase assassina.

Atravessei a rua com as pernas bambas pensando que se tivesse sido atingido pela bicicleta naquela velocidade, teria ido parar na emergência de um hospital e seria obrigado, se tivesse sorte, a trocar o Pilates por meses inteiros de fisioterapia. Passado o calafrio inicial, foi me mando uma raiva intensa de, fazendo a coisa certa (calçada, faixa, sinal), ser obrigado a passar por uma situação dessa natureza, resultado do avanço de um processo gradativo e constante de descontrole que se espalha por toda a cidade, sem ações disciplinatórias eficazes do poder público municipal na direção contrária. São carros estacionados placidamente nas calçadas, buracos enormes abertos nas ruas que passam horas e dias sem ninguém trabalhando neles, calçadas privatizadas e obstruídas por todos os tipos de obstáculos, carroças enormes tracionadas por humanos e animais trafegando muitas vezes na contramão em horário de rush, caminhões e carros parados fazendo carga e descarga a qualquer hora do dia ou na noite nas vias de trânsito pesado e congestionado, bicicletas e motos trafegando impunemente pela contramão e por cima das calçadas etc. etc. etc.

Depois de passados o susto e a raiva mais intensos, refletindo um pouco sobre o problema, vejo-me levado a concluir que a situação é muito mais grave do pode parecer sob o impacto da violenta emoção. Na verdade, tudo faz crer que no Brasil a administração pública municipal, com raras exceções, e das metrópoles em especial, estão perdidas diante da magnitude, da complexidade e da velocidade dos problemas urbanos decorrentes de um modelo de gestão que, simplesmente, faliu. A imagem que me vem à mente é de um caçador com uma espingarda de ar comprimido numa mata que virou selva e se encheu de todo tipo de bicho peçonhento e carnívoro. Ou, por outra, de guardas armados apenas com cassetetes num ambiente onde os fora da lei estão equipados com metralhadoras e fuzis AR15.

No que diz respeito ao Recife especificamente, penso que estamos caminhando, rapidamente, para ter que fazer um escolha de Sofia entre um trânsito e um ordenamento urbano à moda chinesa (caótico mas “organizado”) ou à moda indiana (caótico e “desorganizado”). Isso mesmo, uma escolha entre o caos organizado ou desorganizado, porque do caos mesmo talvez não tenhamos mais como escapar, infelizmente. Trata-se, portanto, de um tema que precisa urgentemente ser tratado e discutido: as cidades no Brasil travaram e faliram como locais organizados e sob controle. O que fazer? Pergunta que, temo, vamos passar toda a próxima década tentando responder. E o que é pior: não tem solução mágica. A mim, interessa saber, para tentar evitar ir parar, de graça, no hospital: vamos aceitar que as bicicletas andem impunemente pela contramão?

Autor:  Francisco Cunha - @cunha_francisco

Palácio do Campo das Princesas

O quarto filme produzido pela Pernambuco.TV (www.pernambuco.tv) tendo como motivo as Caminhadas Domingueiras foi uma edição especial sobre o Palácio do Governo (do Campo das Princesas), numa visita competentemente guiada e narrada pelo arquiteto Fernando Guerra do cerimonial do Palácio. Uma beleza de programa que, na verdade, pode ser calmamente "saboreado" em forma de visita virtual ao se assistir o vídeo. Para os que preferirem a visita presencial, guiada, o Palácio é aberto aos domingos de manhã justamente para isso.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Pedágio Urbano

Artigo da Última Página da Revista Algomais, ed. 66 de Setembro/2011
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Não sou especialista em transportes mas como presto consultoria em gestão a empresas de transporte publico de passageiros da Região Metropolitana do Recife (e ao próprio sindicato da categoria), desde há quase 20 anos, terminei me interessando pelo assunto e me aprofundando nele como que por “osmose”. Isso, aliado ao fato de ter estudado urbanismo na faculdade e de ter palmilhado o Recife inteiro várias vezes e em todas as direções nas caminhadas domingueiras (ou não), me fazem ter chegado a algumas convicções sobre o tema que foram sendo testadas ao longo dos anos pela pesquisa e pelas observações que fui fazendo nas viagens a diversos outros países, a passeio ou trabalho.

A primeira delas é que o principal problema das cidades brasileiras nos próximos anos (talvez na próxima década) é o da mobilidade. Afinal, o Brasil em apenas cerca de meio século inverteu a ocupação territorial, deixando de ser 80% rural e 20% urbano para ser, hoje em dia, acima de 80% urbano, com uma população mais do que dobrada. Além disso, desenvolveu fortemente a cultura rodoviária e automobilística sem o necessário e indispensável investimento público em planejamento urbano e em sistemas estruturais de transporte coletivo, na intensidade e no ritmo que o acelerado processo de urbanização requeria. Resultado: o incentivo à produção e aquisição de automóveis e motocicletas, turbinado pela recente ascensão de mais de 30 milhões de pessoas à condição de novos consumidores desses produtos, trouxe para o presente um problema que se manifestaria um pouco mais adiante. Para se ter uma idéia, só na RMR ingressam 60 mil novos carros por ano. Isso equivale ao incremento mensal de uma quantidade de automóveis igual à que comporta uma Avenida Boa Viagem totalmente engarrafada, da curva do Pina ao antigo Hotel Boa Viagem. Não há alargamento de vias nem construção de viadutos que, sozinhos, resolvam (a propósito, o urbanista Jaime Lerner define “viaduto” como sendo “a distância mais curta entre dois engarrafamentos”).

Por conta desse fenômeno avassalador, minha segunda convicção é a de que o problema só pode ser atacado com o investimento maciço dos governos em sistemas estruturais de transporte público/coletivo de qualidade. E, aqui, abro um parênteses para louvar a recente decisão do Governo de Pernambuco que, por intermédio as Secretaria das Cidades, anunciou um pacote de investimentos para implantação no Recife de quase 100km de corredores inteligentes chamados BRT (Bus Rapid Transit), sistema servido por ônibus de alta capacidade e rapidez que utiliza corredores exclusivos, o mais adequado e testado para cidades que não têm recursos nem condições geológicas para construir metrôs debaixo da terra como é o caso do Recife. É muito bom constatar que finalmente os esforços estão sendo feitos na direção certa.

Por fim, minha terceira convicção é a de que, implantado um sistema de transporte coletivo estrutural e de qualidade superior, será chegada a hora inescapável de implantar o pedágio urbano como já fez, Cingapura, Londres e Estocolmo, por exemplo. Já que não é possível restringir a compra de veículos automotores (pelo contrário, até, uma vez que há uma evidente política de estimular essa compra), vai ser necessário impor restrições à sua circulação nas grandes cidades. Da última vez que disse isso no Twitter levei uma verdadeira surra virtual. Trata-se, evidentemente, de uma medida impopular e dura para quem tem ou pretende ter carro mas, infelizmente, inevitável. Afinal, mesmo no melhor cenário, a situação vai piorar muito antes de começar a melhorar. O pedágio urbano pode demorar cinco anos ou mais porém sem dúvida virá e quanto mais cedo formos conversando e discutindo a respeito, melhor.

Autor: Francisco Cunha - @cunha_francisco

Cais Martins de Barros e Praça da República

No terceiro filme produzido pela Pernambuco.TV sobre as Caminhadas Domingueiras, o percurso trilhado pela beira do trecho de rio formado pelo encontro dos rios Capibaribe e Beberibe (o exato local onde, dizem os ufanistas residentes, os dois rios se encontram para formar o Oceano Atlântico…) chega à extraordinária Praça da República tendo como trilha sonora a magistral música de Dorival Caymmi "Dora, Rainha do Frevo e do Maracatu"). Caymmi a compôs da sacada do antigo Grande Hotel quando, vindo ao Recife para se apresentar na Rádio Jornal do Commercio (cujo slogan era "Pernambuco falando para o mundo"), viu passar uma mulata belíssima à frente de um bloco carnavalesco. Encantou-se, fez a música e a registrou na história da MPB.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Secretaria das Calçadas

Artigo da Última Página da Revista Algomais, ed. 65 de Agosto/2011
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A calçada é o primeiro degrau da cidadania urbana. Numa cidade onde a calçada não é respeitada, não se pode esperar respeito por mais nada. Estacionar na calçada é, no final das contas, um ato de covardia porque o pedestre não pode “revidar”, “estacionando” no meio da rua para “atrapalhar” a circulação dos carros. Se fosse criado um indicador para caracterizar problemas nas calçadas (onde andam os pedestres) e nas ruas (onde circulam os veiculam) ele apontaria muito mais problemas por m2 nas calçadas do que nas ruas. Nos meios de comunicação, todavia, a visibilidade é oposta, o que evidencia a pouca importância dada ao assunto.

Tenho postado essas e outras frases ultimamente com insistência no Twitter como expressão de minha indignação pessoal com a lamentável situação a que estão relegadas as calçadas e com a atitude de absoluto desrespeito para com o sagrado direito de ir e vir do cidadão pedestre na cidade do Recife.

Desde que comecei a andar de forma sistemática (porque de modo assistemático sempre andei) pelas ruas do Recife, há pelos menos cinco anos, praticamente todos os domingos (pelas minhas contas já foram mais de 1.000 km), tenho observado de tudo: dia após dia cada vez mais carros, plácida e impunemente estacionados; buracos de todos os tamanhos e formas; todo tipo de obstáculos (degraus, grades, canos, raízes, churrasqueiras, cadeiras e mesas de bares, mercadorias de todos os tipos, lixo, bancas de revistas, barracas, cocô de cachorro e, não raro de gente também etc.).

De todas essas lastimáveis mazelas, a mais revoltante é o estacionamento proibido de veículos no espaço destinado aos pedestres. Lembro claramente que esse era um problema muito freqüente antes de vigorar o novo Código Nacional de Trânsito em 1998 mas, depois, por conta do aumento do valor das multas e da ação da fiscalização do Detran, os carros sumiram das calçadas. Até que o controle do trânsito passou na cidade do Recife do Detran para a CTTU e, aí, como que num passe de mágica, a situação voltou, num tremendo retrocesso, ao estágio inicial e vem piorando progressivamente desde então sem que os infratores sofram absolutamente qualquer tipo de sanção. Neste mesmo espaço da Última Página cheguei a escrever um artigo com o título “CTTU, Multe Por Favor!”, solicitando que o órgão cumprisse sua obrigação mais elementar. Nada, porém, aconteceu. Absolutamente nada, muito pelo contrário.

Foi aí que recentemente no Twitter postei também essa sugestão provocativa: a prefeitura criar a Secretaria das Calçadas para enfrentar tão grave problema. Além da sugestão de criação da secretaria, fui além e me coloquei no lugar do hipotético secretário das calçadas postando as seguintes medidas que tomaria logo depois de empossado, por ordem de importância: (1) multa por estacionamento proibido em todos os veículos que estivessem sobre as calçadas, a qualquer hora do dia ou da noite; (2) ampla campanha educativa tendo como tema “calçada é lugar de pedestre”; (3) retirada de todos os obstáculos indevidos nas calçadas, inclusive mesas e cadeiras de bares; (4) trinta dias após o início da campanha, começaria a notificação aos proprietários dos lotes cujas calçadas estivessem fora dos padrões mínimos requeridos dando prazo de trinta dias para adequação; (5) findo o prazo, a prefeitura faria a adequação e mandaria a multa e a conta para o proprietário do lote.

Tenho certeza absoluta de que seis meses após a primeira multa as mudanças já começariam a ser notadas. Um ano depois, a situação estaria substancialmente melhor. Se for prioridade, tem jeito sim.

Autor: Francisco Cunha - @cunha_francisco

Cais da Alfândega e do Imperador

Neste segundo filme produzido pela Pernambuco.TV sobre as Caminhadas Domingueiras pelo Recife, o passeio se dá da Praça do Marco Zero até o outro lado do rio, passando pela Igreja da Madre de Deus, Cais da Alfândega, Ponte Maurício de Nassau, vista do Cais do Imperador e Praça 17. Trata-se de um trecho privilegiado do centro do Recife que merece ser percorrido a pé com toda a atenção para a beleza da paisagem e a densidade das referências históricas.