Artigo da Última Página da Revista Algomais, ed. 68 de Novembro/2011
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Sim, eu sei que o mundo precisa avançar, que há o imperativo inescapável do progresso, que os clubes de futebol precisam se empresariar e tirar partido dos seus patrimônios imobiliários em prol de um mínimo de estabilidade financeira para melhor cumprirem suas missões esportivas e sociais. Sei muito bem de tudo isso e, de antemão, já digo que não aceito a pecha de romântico, saudosista ou alienado que minhas considerações abaixo possam inspirar alguém a me impingir.
Mas, sei também, porque aprendi na escola e na dura experiência da vida, que esse progresso absolutamente necessário não se pode fazer em detrimento da memória coletiva, de uma cidade, de um povo. Porque se assim for feito, será espúrio, anti-civilizatório e condenável do ponto de vista moral.
Portanto, como rubro-negro de carteirinha (literalmente porque lembro muito bem da carteira de sócio proprietário que meu pai providenciou para mim, antes mesmo que eu sequer viesse a saber o que era futebol) sou completamente a favor do projeto da arena rubro-negra nos moldes em que vi publicado nos jornais e nos sites, com uma condição sine qua non: que não botem abaixo a sede social do clube da Ilha do Retiro e, mais do que isso, que a concluam e a preservem.
"Esse progresso absolutamente necessário não se pode fazer em detrimento da memória coletiva" |
Pela pesquisa que fiz, a autoria do projeto é do arquiteto Augusto Reynaldo, integrante da chamada Escola de Arquitetura Moderna do Recife, falecido prematuramente em acidente no ano de 1958. Talvez tenha recebido a colaboração do arquiteto Jarbas Guimarães, ex-presidente do Sport. Trata-se de um primor de projeto de sede de clube que não sei por que cargas d’água não foi classificado pela Prefeitura do Recife como IEP – Imóvel Especial de Preservação (previsto em lei municipal como aquele constituído por exemplar isolado, de arquitetura significativa para o patrimônio histórico, artístico e/ou cultural, que interessa à cidade preservar). É inexplicável que a sede social do Náutico seja IEP e a do Sport não, uma vez que a qualidade do projeto da rubro-negra é superior ao da alvirrubra (a qual também defendo, veementemente, não derrubar e preservar) como exemplo de programa arquitetônico específico de clube esportivo.
A observação pelo Google Earth do terreno da Ilha do Retiro mostra que a atual sede social não chega a ocupar sequer 5% da área total (13 ha), o que torna perfeitamente possível a integração, bastando para isso uma adaptação do projeto feito. Alegar que não é possível é incorreto. Basta querer fazer que será feito. O Blog da Algomais registrou uma declaração do histórico rubro-negro Haroldo Praça, o famoso “Haroldo Fatia” do imortal Frevo Nº 1 do Recife, de Antônio Maria (“Ô, ô, ô, saudade / Saudade tão grande...”), falecido este ano, dizendo que iria para a frente das máquinas impedir a demolição. Não chego a tanto, mas lavro aqui meu protesto veemente clamando para que a absurda insensibilidade não prevaleça, o pior não aconteça e o bom senso seja recuperado em prol do respeito à memória do clube e do Recife.
Autor: Francisco Cunha - @cunha_francisco
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